16 de setembro de 2023

Revista inspirada em livro de autor potiguar e produzida com verbas de penas pecuniárias é lançada pelo TJRN


Revista inspirada em livro de autor potiguar e produzida com verbas de penas pecuniárias é lançada pelo TJRN

Revista inspirada em livro de autor potiguar e produzida com verbas de penas pecuniárias é lançada pelo TJRN

Criado pelo Tribunal de Justiça do RN, o programa Devolver para Reparar vem convertendo os valores das penas de prestação pecuniária em benefício de instituições que desenvolvem projetos sociais, de incentivo à cultura, entre outras áreas de atuação. Um exemplo é a revista em quadrinhos “Por que não se casa, Doutor?”, lançada nesta sexta-feira (15/9), na Biblioteca Mattos Serejo, do prédio sede do TJRN.

Financiada por meio de recursos de penas pecuniárias destinadas pela Comarca de Currais Novos, a revista, baseada no livro de mesmo nome, retrata a vida de um boêmio em Belo Horizonte, constantemente pressionado a se casar e “tomar jeito”, e tem traços autobiográficos do autor, José Bezerra Gomes, natural de Currais Novos, que também morou durante seu período universitário na capital mineira.

O presidente do TJRN, desembargador Amílcar Maia, ressaltou que são programas como esse que tentam mudar a visão de um Judiciário moroso, trazendo o retorno mais imediato do exercício da função do juiz em retorno direto para o jurisdicionado. “É muito gratificante ver que essas situações estão cada vez mais tomando o nosso estado. E trabalhos pioneiros como esse, que foi desenvolvido em Currais Novos, me deixa muito orgulhoso e, com certeza, também traz orgulho para o próprio cidadão de Currais Novos, que vê preservada a sua cultura. Por isso eu parabenizo a todos”, disse o presidente durante o lançamento da publicação.

O presidente do TJRN, desembargador Amílcar Maia, destacou a importância de programas como o Devolver para Reparar

O presidente do TJRN, desembargador Amílcar Maia, destacou a importância de programas como o Devolver para Reparar

Publicado originalmente em 1938, foi o leilão de um exemplar original da obra potiguar, em 2022, no Rio de Janeiro, que acendeu a ideia no magistrado Marcus Vinícius Pereira Júnior, da 1ª Vara da Comarca de Currais Novos, de destinar parte dos recursos para produções culturais a respeito das obras do autor seridoense, apontado pelo juiz como o principal autor de Currais Novos, que estava esquecido e com esse tipo de ação foi rememorada sua história.

“É uma felicidade grande ver que uma ação negativa, que é um crime, o Judiciário consegue converter em uma ação positiva, que é o incentivo à cultura, ações esportivas, educacionais”, explicou o magistrado sobre a importância do retorno das penas pecuniárias à sociedade. “Essa revista em quadrinhos vai fomentar o conhecimento acerca do autor e da obra, principalmente para os adolescentes, que poderão conhecer a obra em quadrinhos e ter a curiosidade de ler o livro, e assim termina sendo fomentada a educação, a cultura com a participação fundamental”, completou o juiz.

 O juiz Marcus Vinícius Pereira Júnior, da 1ª Vara da Comarca de Currais Novos, destinou as verbas oriundas das penas pecuniárias para a produção da revista em quadrinhos

 O juiz Marcus Vinícius Pereira Júnior, da 1ª Vara da Comarca de Currais Novos, destinou as verbas oriundas das penas pecuniárias para a produção da revista em quadrinhos

Presente ao lançamento, o prefeito de Currais Novos, Odon Júnior, avaliou “muito positivamente essa atuação do Poder Judiciário, destinando recursos das penas pecuniárias para diversos projetos sociais, seja de associações, seja o Poder Público que também consegue participar de projetos, além de financiar projetos culturais, ações sociais, ações esportivas”.

Ele também ressaltou a importância de incentivar a adaptação da obra de um importante autor local. “José Bezerra Gomes é um escritor de renome nacional e ter essa lembrança novamente, ter essa referência, essa memória a partir de uma revista que faz uma alusão a um dos seus livros para que popularize ainda mais esse conhecimento literário, é fundamental para manter os nossos valores, manter essas pessoas que são referências da história do nosso município”.

Estiveram presentes também o corregedor-geral de Justiça, desembargador Gilson Barbosa, e a desembargadora Lourdes Azevêdo. O corregedor ressaltou que “é importante o Judiciário estar destinando essas penas pecuniárias para projetos que incentivam a cultura, o resgate da memória do Rio Grande do Norte. Sobretudo porque dá uma eficácia, uma destinação ao dinheiro arrecadado. Não é razoável que esse dinheiro fique em conta bancária, é preciso que reempregue e volte através de projetos”.

A desembargadora Lourdes Azevêdo prestigiou o lançamento da revista "Por que não se casa, Doutor?"

A desembargadora Lourdes Azevêdo prestigiou o lançamento da revista “Por que não se casa, Doutor?”

A desembargadora Lourdes Azevêdo também compartilhou da visão do colega. “É uma ideia inovadora, se utilizar de recursos que advêm de uma atividade criminosa, que causa tanto mal, e transformá-los em algo bom, em prol da cultura, possibilitando que pessoas que têm essa inteligência, esse talento, possam desenvolver essa arte, como está sendo posto aqui na revista em quadrinhos e valorizando também um autor que faz parte da história no município, José Bezerra Gomes. Isso é maravilhoso”.

Produção

Editado por José Correia Torres Neto, a história em quadrinhos foi adaptada, ilustrada e diagramada por Anderson Gomes, que recebeu o convite do editor para participar do projeto.

De acordo com Anderson, a ideia inicial era adaptar a obra “Os Brutos”, este foi o primeiro contato do ilustrador com José Bezerra Gomes, mas acabaram decidindo por adaptar “Por que não se casa, Doutor?”.

“Primeiro eu tenho que ler toda a obra uma, duas, três vezes, para poder pegar os pontos básicos, e poder selecionar o que vai servir para fazer a adaptação. Depois eu parti para o grosso, que é desenhar no grafite, depois com o nanquim, pintar no computador e diagramar o texto. É tanto que eu tive que cortar muita coisa, muitos detalhes, tinha que seguir um fio narrativo para poder não ficar tão enfadonho”, relata o ilustrador, ressalvando que isso é normal na adaptação de um formato para outro, pois são linguagens diferentes.

E o trabalho foi elogiado pelo professor aposentado da UFRN e pesquisador da literatura potiguar, Tarcísio Gurgel, que também foi responsável pela apresentação da obra. Sobre o livro original, o professor ressalta que “é uma obra que chama a atenção, repercutiu já na época, e Zé Bezerra Gomes provém de uma família importante, de uma importante tradição patriarcal curraisnovense e ocupou muitos espaços na chamada mídia da época”.

Professor aposentado da UFRN e pesquisador da literatura potiguar, Tarcísio Gurgel, participou do lançamento da revista 

Professor aposentado da UFRN e pesquisador da literatura potiguar, Tarcísio Gurgel, participou do lançamento da revista 

O pesquisador também explica que a construção de uma obra mais extensa do autor foi prejudicada pela saúde fragilizada de José Bezerra, que frequentou seguidas vezes sanatórios. “Tudo isso comprometeu completamente a produção literária desse grande autor que agora ressurge de uma forma absolutamente improvável com base exatamente no projeto do Judiciário de Currais Novos, que destinou as penas pecuniárias para promoções culturais e em boa hora conseguiu que fosse reeditado o livro mais importante de Zé Bezerra Gomes que é exatamente o romance chamado ‘Por que não se casa, Doutor?’”.

Por fim, Tarcísio Gurgel pontuou que um clássico conquista essa posição pela sua capacidade de se mantar fresco, conectado com novos leitores, independente de quanto tempo passe. Por essa razão, os envolvidos na obra esperam que uma nova geração de leitores possa renovar a admiração pelo escritor seridoense, recuperando a memória e valorizando a cultura local.

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