15 de junho de 2022

“Super quarta”: Brasil e EUA devem subir juros, com mercado focado em próximos passos


Os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos decidem nesta quarta-feira (15) o grau de elevação de juros que realizarão. O foco dos investidores, porém, será nas sinalizações que aparecerão nos comunicados dessas autarquias após os encontros.

Para investidores brasileiros, o dia é chamado de “super quarta”, já que as duas definições devem mexer com o mercado.

A reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve terminará à tarde, por volta das 15h, enquanto a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central será divulgada a partir das 18h.

Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, especialistas consultados pelo CNN Brasil Business apontam que os juros devem subir 0,5 ponto percentual, uma aposta que foi reforçada com indicadores econômicos divulgados entre maio e junho.

Entretanto, nesta semana ampla maioria dos investidores norte-americanos passaram a projetar uma alta de 0,75 p.p. nos Estados Unidos, contrária às sinalizações dos dirigentes da autarquia.

Além disso, o foco estará nos próximos passos desses ciclos de alta. Em relação ao brasileiro, sobre seu possível fim, e no caso norte-americano, sobre sua velocidade.

No Brasil, o fim de um ciclo?

O Copom começou a subir a taxa básica de juros, a taxa Selic, em março de 2021, colocando a economia brasileira como uma das primeiras dentre as maiores a iniciar um ciclo de alta de juros para combater uma inflação, em geral, com causas semelhantes pelo mundo.

Mais de um ano depois, e com um recorde de 10 altas seguidas, a Selic saltou de 2% para 12,75% ao ano, e o mercado acredita que o Banco Central não deve parar por aí.

A visão da maioria dos agentes financeiros é que o Copom optará por elevar a Selic em mais 0,5 ponto percentual, passando os juros para 13,25% ao ano. A grande questão é se a autarquia sinalizará que vai parar por aí ou deixará a porta aberta para outra alta em agosto.

Mesmo achando que essa não deveria ser a ação ideal, Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, não descarta que o Banco Central já indique no comunicado ao fim da reunião que optou por encerrar o ciclo atual de alta.

Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, acredita que o Banco Central deve indicar o fim do ciclo após a alta de 0,5 p.p. ou deixar em aberto a possibilidade de uma outra elevação futura, de 0,25 p.p.

Ele vê a taxa de juros atual como “muito contracionista”, e defende que “talvez seja melhor ficar em uma taxa de 13,25% por mais tempo do que subir mais e precisar voltar mais cedo. Se fizer 13,25% e vai até o meio do ano que vem assim, caindo só no segundo semestre, faria mais sentido que ir além”.https://flo.uri.sh/visualisation/7332888/embed

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, o Banco Central deve sinalizar que encerrou o ciclo de alta, mesmo com apostas de uma elevação de 0,25 p.p. em agosto ganhando força.

“Acho que 13,25% cumpre muitos dos objetivos. A taxa de juros vai estar positiva, a taxa real deve aumentar. Mas é tanta coisa recente que até a boa notícia do IPCA mais fraco gerou um sentimento ruim”, pondera.

Os próximos passos do Fed

Nos Estados Unidos, o quadro é outro. O Federal Reserve iniciou o ciclo atual de elevação de juros apenas em março deste ano. Desde então, os juros subiram do intervalo de 0% a 0,25% para 0,75% e 1% ao ano, enquanto a inflação se mantém no maior nível em quatro décadas.

O Fed sinalizou explicitamente que pretende subir os juros em 0,5 p.p. tanto em junho quanto julho. O foco, portanto, deve ser em possíveis atualizações nessas projeções, englobando agora a reunião de setembro.

André Perfeito observa que o dado de inflação divulgado na sexta-feira (10), do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), apontou que a inflação no país está muito persistente, e sem sinal de queda, diferente do caso brasileiro.

“O Fed está tento que correr atrás para controlar a inflação, e deve tentar sinalizar isso pelo comunicado. O tom deve ser mais duro, porque não tem como ignorar mais o cenário. O BCE também não subiu juros, então eles vão precisar ser mais duros”.

Mesmo assim, ele não espera que o Fed reverta a posição de descartar altas de 0,75 p.p. “O perfil da diretoria atual não parece ser de ajustes mais fortes. Mas subindo de 0,5 p.p. em 0,5 p.p., é muita coisa, e tem também o corte no balanço, que tem um efeito forte”.

Fontes, da Nord, acredita que o Fed não deve ser tão agressivo quanto o mercado está esperando, e buscará manter os juros no patamar neutro, entre 2% a 3%, como indicado anteriormente.

Nesse sentido, ela afirma que a possibilidade do Fed pausar o ciclo de alta em setembro, como avaliado pelo mercado anteriormente quando a inflação em abril desacelerou, não deve ocorrer, em especial após o dado de inflação de sexta-feira, que indiciou que o pico ainda não foi atingido.

Espírito Santo também descarta uma pausa no ciclo em setembro, e acredita que, no lugar dela, possa ocorrer uma elevação de 0,25 p.p., e espera que os juros terminem o ano na casa dos 3%.

Para ele, o momento atual demanda cuidado, e o Fed deve ser cauteloso para evitar um “grande maremoto” nos mercados financeiros.

“É um grande medo. As bolsas já estão caindo há um bom tempo e podem cair mais, e há o risco de uma crise financeira, daí a necessidade de cautela. Precisa ter cuidado com as palavras, no comunicado, para não trazer mais turbulência e despertar uma crise”, afirma.

CNN Brasil

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