02 de fevereiro de 2023

Senador Marcos do Val diz que Bolsonaro tentou convencê-lo a dar golpe e renuncia. PF quer ouvi-lo


A Polícia Federal pediu autorização ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para colher o depoimento do senador Marcos do Val sobre uma suposta tentativa de golpe articulada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que o senador revelou em declaração neste madrugada.

O pedido foi feito pela PF dentro do inquerito que investiga a participação de autoridades públicas nos atos violentos do último dia 8 de janeiro.

É a mesma investigação que resultou na prisão do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e na apreensao de uma minuta golpista em sua residência.

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou na madrugada desta quinta-feira que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo para dar um golpe de estado. A investida, segundo o parlamentar, foi recusada e prontamente denunciada. O senador também anunciou que vai renunciar ao mandato.

A declaração do senador foi dada durante uma live nas redes sociais.

— Eu ficava puto quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de estado junto com ele, só para vocês terem ideia. E é logico que eu denunciei — afirmou do Val.

Após a transmissão, Marcos do Val usou sua conta no Instagram para reforçar o que havia declarado anteriormente. O parlamentar capixaba comunicou sua “saída definitivamente da política”.

“Perdi a convivência com a minha família em especial com minha filha. Não adianta ser transparente, honesto e lutar por um Brasil melhor, sem os ataques e as ofensas que seguem da mesma forma. Nos próximos dias, darei entrada no pedido de afastamento do senado e voltarei para a minha carreira nos EUA”, escreveu o senador.

Marcos do Val também alegou ter perdido a “paixão” por sua atividade parlamentar, lembrou que teve um problema de saúde, “chegando a sofrer um princípio de infarto”, e que vem sofrendo ofensas pesadas e que afetam até mesmo sua família.

Marcos do Val afirmou à revista Veja que o ex-deputado Daniel Silveira, preso nesta quinta-feira, teria pedido para o senador gravar uma conversa com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que seria usada para anular o resultado das eleições. O plano articulado por Silveira na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro previa captar um diálogo comprometedor com o magistrado que serviria para prendê-lo e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Do Val, o plano para anular as eleições veio à tona em uma reunião com Silveira e Bolsonaro no dia 9 de dezembro. O encontro durou 40 minutos e foi recheado de cuidados para impedir que houvesse qualquer registro da conversa. O deputado, então, apresentou a ideia de gravar Moraes, dizendo ao senador que ele seria um “herói nacional” se embarcasse no plano. O parlamentar relata que Bolsonaro teria dito na reunião que já havia acertado o suporte técnico à operação com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Seriam utilizadas escutas de operações especiais. O presidente da República disse a Do Val que a armadilha “iria salvar o Brasil”.

A escolha pelo nome do senador se deu pela sua relação de mais de uma década com o ministro do STF e do TSE. Do Val não respondeu prontamente e pediu para pensar sobre o pedido.

O senador conta que recebeu várias mensagens de Silveira insistindo para que ele aceitasse participar do plano. O agora ex-deputado garantiu a ausência de riscos na operação e falou que o conteúdo do áudio seria descartado se nada fosse extraído de Moraes. Silveira ainda afirmou que que “pessoas muito importantes e relevantes” estavam envolvidas na operação e que todos depositavam em Do Val “uma esperança sem precedentes”, relata a revista Veja, que teve acesso às mensagens.

Três dias depois da reunião, em 12 de dezembro, Marcos do Val enviou uma mensagem a Moraes pedindo uma conversa presencial com o ministro. Escreveu que precisava falar com o magistrado sobre uma conversa que teve com Bolsonaro e Garcia. De acordo com a Veja, o senador afirmou na mensagem que os dois haviam lhe convidado para “uma ação esdrúxula, imoral e até criminal”.

O encontro com o ministro ocorreu após dois dias. Nele, o senador contou detalhes sobre a “missão” que recebeu do presidente. “Não acredito”, reagiu Moraes. No mesmo dia, à noite, o senador comunicou a Silveira que iria declinar da operação. O ex-deputado respondeu de forma sucinta: “Entendo, obrigado”.

Na madrugada desta quinta, Do Val falou pela primeira vez sobre a tentativa de ser coagido para dar um golpe de estado. O senador também anunciou que vai renunciar ao mandato.

Quem é Marcos do Val?

Natural de Vitória (ES), Marcos do Val é um militar do exército Brasileiro no 38º Batalhão de Infantaria. O senador de 51 anos, no entanto, tornou-se famoso como instrutor de agentes de segurança pública e privada.

Com esta qualificação, Marcos do Val fundou uma empresa – o Centro Avançado em Técnicas de Imobilizações (Cati) – e ofereceu cursos para agentes da Swat, Nasa, FBI, Navy Seals e Vaticano, conforme consta no site oficial do senador.

Marcos do Val também era frequentador de programas de auditório, nos quais demonstrava as habilidades que ensinava em cursos dados a “mais de 120 corporações policiais e de segurança espalhadas por diversos países como EUA, China, França, Espanha, Luxemburgo, Bélgica, Itália, Portugal, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Equador, Colômbia, Brasil e outros”.

Eleito na onda do bolsonarismo, em 2018, Marcos do Val faz sucesso nas redes sociais. O nome dele consta em um levantamento feito pelo GLOBO com base em dados do Facebook e Instagram que ranqueou os parlamentares mais influentes.

O capixaba aparece no topo dos nomes mais fortes no Instagram, com taxa de interação de 2,9 milhões e 826 mil seguidores. marcos do Val está à frente de Damares Alves (Republicanos-DF), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Flávio Dino (PSB-MA) e Romário (PL-RJ).

No Facebook, Marcos do Val aparece na quinta posição, atrás de Humberto Costa (PT-CE ), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Eduardo Girão (Podemos – CE) e Magno Malta (PL-ES).

Nas últimas semanas, o senador capixaba travava embates com o novo governo federal. Em 13 de janeiro, cinco dias após os atos golpistas que depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, Marcos do Val acusou a gestão Lula de deixar “a tragédia acontecer” e anunciou que pediria o afastamento e a prisão do ministro.

Marcos do Val também se notabilizou na CPI da Covid, em 2021. O senador integrava a tropa de choque do ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante o interrogatório do irmão do ex-deputado Luís Miranda (DEM-DF), o capixaba e ex-parlamentar discutiram e chegaram se esbarrar. Outros senadores precisaram intervir para que os dois não chegassem às vias de fato.

— Eu ficava puto quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de estado junto com ele, só para vocês terem ideia. E é logico que eu denunciei — afirmou do Val.

Após a transmissão, Marcos do Val usou sua conta no Instagram para reforçar o que havia declarado anteriormente. O parlamentar capixaba comunicou sua “saída definitivamente da política”.

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