21 de julho de 2018

“Alckmin deveria soltar a franga”: 23 perguntas para Olga Curado


Preparadora de candidatos — que já orientou Lula, Dilma e Aécio — palpita sobre estratégias de concorrentes ao Planalto
1. Que candidato a presidente será treinado pela senhora nesta eleição?

Fui procurada por quase todos os pré-candidatos, mas optei por não trabalhar com nenhum. De alguma maneira, com minha facilitação, algumas pessoas começam a mostrar muito o que têm de bom, mas elas não são só aquilo. Se elas recebem ajuda para mostrar apenas uma parte controlada, não é transparente. Esta é uma eleição em que os políticos precisam ser mais eles, e nós, eleitores, vamos ter a oportunidade de ver quem é quem de verdade: o destrambelhado, o controlador, o vaidoso…

2. A senhora cria um personagem para o candidato?

Não. Todos nós temos um lado bom e um lado ruim. Eu ajudo a pessoa a perceber as qualidades que tem. Estimulo o aspecto positivo, a capacidade de empatia e de olhar para o problema do outro. Durante algumas campanhas, tive esse papel.

3. Quais são os maiores pecados comportamentais de um candidato?

Arrogância, vaidade e desonestidade. Isso torna difícil que o candidato tenha uma liderança confiável. Se é arrogante, ele coloca em si um poder que não tem. Se é vaidoso, coloca em si uma capacidade que não é dele. Se mente, é capaz de qualquer coisa.
4. Como o eleitor pode identificar um candidato “fake”?

É preciso olhar a história do candidato, não o programa de televisão. Trabalho com uma metodologia em que a imagem é estruturada em três elementos: valor, gestão e relacionamento. Valores são os princípios éticos que norteiam a agenda de cada um: as práticas do político mostram transparência? Gestão é a capacidade de entrega: o candidato faz o que fala? Sobre relacionamento, observe como o candidato trata as pessoas, principalmente as que estão em posições inferiores. Ele é desrespeitoso? Dessa maneira é possível ter um retrato do candidato.

5. É mais fácil trabalhar o comportamento de homem ou de mulher?

Com algumas mulheres foi mais difícil. Nós, para chegarmos a posições de relevo e importância, tivemos de batalhar bastante. Às vezes, chegamos a essas posições com o couro meio grosso, portanto algumas mulheres são mais resistentes a ouvir e a mudar. Já o homem tem a questão da vaidade. Ele não acha que precisa mudar.

6. É verdade que, durante a preparação da ex-presidente Dilma Rousseff na campanha de 2010, a senhora chegou a dar um tapa no rosto dela?

Isso é mentira. Às vezes, usando a técnica do aikido, seguramos o pulso, o braço, damos um empurrão. Até acontece de a pessoa cair no chão e rolar, mas esse não foi o caso dela.

7. Como foi trabalhar com Dilma?

Foram quatro longos meses para prepará-la para a primeira eleição. Precisei trabalhar a dificuldade de organização do discurso, que é associada a uma visão de ser criticado por todo mundo. Por causa disso, você começa a desenvolver pensamentos complicados para mostrar que está certo e se torna incompreensível. Foi preciso limpar o raciocínio.

8. É possível conter a intempestividade de Ciro Gomes (PDT)?

É possível a partir da consciência dele. A impulsividade tem a ver com o perfil de alguém que sempre esteve acostumado a ver suas vontades serem prontamente atendidas e se torna impaciente quando isso não ocorre na velocidade e na forma que desejaria. Ciro precisa aumentar um pouco a escuta, fazer alguns exercícios de respiração e praticar a paciência consciente. Antes de fazer algo de que tem vontade, deve beber um copo d’água. Se quiser dar um soco, antes deve pegar os óculos ou uma caneta. Antes de responder a qualquer questão, deve contar até quatro para ter um tempo para se organizar.

9. A pré-candidata Marina Silva (Rede) pode ter uma imagem menos frágil?

A Marina não tem uma fragilidade só por causa da aparência, mas também pela voz. Ela até tem usado roupas que não evidenciam que ela não é corpulenta, mas a voz falha. A imagem da Marina não é só de uma pessoa fraca, mas também de uma pessoa orgulhosa. E o orgulho pode esbarrar na arrogância. Isso aparece num discurso empolado, em que ela tenta mostrar como superou a história de pobreza e analfabetismo e se tornou erudita. Ela precisa simplificar o discurso, fazer fonoaudiologia e comer um pouco mais.

10. Geraldo Alckmin (PSDB) já foi apelidado de “picolé de chuchu”. O que ele deve fazer para ter uma imagem de um político mais incisivo?

O Alckmin não abre a boca, fala travado, não passa entusiasmo. Não tem gestos amplos, não abraça. Ele é tenso e passa imagem de que não confia em ninguém e está sempre na retranca. Isso está no rosto dele, na maneira de se vestir e de pentear o cabelo. O Alckmin tem de soltar a franga: rir mais, mudar as roupas, se aproximar das pessoas. Ele é mais picolé do que chuchu.

Olga Curado
11. Como trabalhar a truculência demonstrada nos discursos de Jair Bolsonaro (PSL)?

O Bolsonaro é um sedutor que tem a profundidade de um pires. Sua truculência faz parte de um personagem. Ele é um charlatão com habilidade de criar um discurso e um comportamento para seduzir um grupo específico, que quer acreditar em Papai Noel. Tem a visão de mundo de uma janela de delegacia. Neste momento, é possível perceber que Bolsonaro está se controlando, mas ele é irritadiço, principalmente quando confrontado. Essa irritabilidade tende a aparecer em debates. Ele tem pouca paciência e se sente atacado quando sua capacidade intelectual é questionada. Se houver questionamento, ele vai mostrar um lado descontrolado.
12. O ex-presidente Lula (PT), preso em Curitiba, tem a capacidade de transferir carisma para outro candidato?

Carisma não é transferível, mas voto é. Ele é um grande comunicador. Tem gente que vai votar em quem ele mandar. O Lula também é favorecido pela polarização de discursos. Com a prisão, existe a martirização de imagem, uma vitimização que mantém a força dele.

13. Existe nesta eleição algum candidato indomável?

Acho que todos são indomáveis, mas as habilidades do marketing vão dourar essa característica. Não vejo nenhum deles deixando de ser o que é. De todos, o Bolsonaro é o mais preparado para seguir o figurino que for feito para ele, para moldar o comportamento. Decorar slogan para ele é fácil.

14. Qual foi o candidato mais difícil com quem trabalhou?

A Dilma, porque tem um temperamento forte e não possui talentos naturais para relacionamento. Foi difícil trabalhar a exposição pública dela. É uma pessoa muito ciosa do que gosta e do que quer, o que a torna pouco flexível às propostas.

15. O que a faz recusar um trabalho?

Minha agenda… (Curado cai na gargalhada). Percebi que o que eu ofereço não é o que eles precisam. Não quero me transformar em alguém que está ali só para mostrar o exterior, mas, sim, que possa contribuir para uma mudança interior também.

16. Você se arrepende de ter trabalhado com algum político?

Não especificamente, mas, quando fiquei olhando para o povo em Curitiba, eu me senti meio traída, ingênua. Me senti usada. Agora prefiro não arriscar.

17. De todos os candidatos, qual é o mais perigoso?

O Bolsonaro, sem dúvida nenhuma. Não pela questão ideológica, mas pelo despreparo. As pessoas despreparadas, ignorantes, começam a servir propósitos que elas desconhecem. Ter um líder que pode ser usado por seu desconhecimento é muito preocupante.

18. O Ciro precisa…

Respirar.

19. A Marina precisa…

Desempolar.

20. O Alckmin precisa…

Abrir a boca.

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21. O Bolsonaro precisa…

Estudar.

22. O Lula precisa …

Respeitar a Justiça.

23. Em quem a senhora vai votar?

Não sei.

Fonte: Revista Época

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