20 de setembro de 2021

Vírus ebola pode ressurgir em sobrevivente anos após infecção, diz estudo


Um estudo publicado na revista Nature sugere que pessoas que sobreviveram ao ebola podem sofrer recaída e desinfectar surtos pelo menos até 5 anos depois da 1ª infecção. As informações são da agência France Press. Eis a íntegra do trabalho (2 MB).

Demonstramos claramente que, até mesmo depois de quase cinco anos (…), podem surgir novas epidemias através da transmissão por humanos infectados durante uma epidemia anterior”, diz um trecho da pesquisa.

A hipótese foi levantada depois dos autores analisarem as amostras de vírus retiradas de 12 pacientes infectados durante a última epidemia neste ano na Guiné, considerada encerrada em junho. O número de vítimas –6 mortos– foi baixo, tendo em vista que a doença é relativamente pouco contagiosa, mas muito letal.

A epidemia dos anos anteriores foi muito mais letal, deixando mais de 11.000 mortos de 2013 a 2016 na Guiné e nos países vizinhos.

Ao longo dos anos, o vírus mudou muito pouco. Essa foi a conclusão de pesquisadores de 3 laboratórios (2 na Guiné e 1 no Senegal). Eles sequenciaram o vírus da epidemia de 2021.

Para eles, a não-mutação foi uma surpresa. O esperado era que o vírus sofresse mais mutações ao longo dos anos. Isso porque circula entre algumas espécies de morcegos, que transmitem a outros animais, como os macacos. Estes, ocasionalmente, transmitem para as pessoas.

A maioria dos epidemiologistas considera que é assim que acontecem as novas epidemias do vírus ebola. O novo estudo publicado na revista Nature põe em dúvida essa tese.

Se a epidemia de 2021 tivesse sido causada pela transmissão de um animal em um humano, então o vírus provavelmente estaria muito diferente da epidemia de 2013-2016. Ele viria de uma nova cepa na cadeia de contágios (entre animais e depois humanos) e teria sofrido mutações.

Os autores da pesquisa avaliam que o vírus permaneceu no corpo dos pacientes que se infectaram anos antes, foi novamente ativado e, assim, desencadeado a epidemia.

Esta não é uma hipótese totalmente nova. Já se sabia que o vírus podia permanecer no corpo. A novidade é que seja capaz de causar a doença tanto tempo depois da 1ª infecção.

É um novo paradigma: a possibilidade de um contágio a partir de um indivíduo infectado durante uma epidemia pode ser o ponto de partida de um novo surto”, explica Alpha Keita, um dos principais autores.

Ainda não há provas absolutas que esse seja o caso, mas os dados indicam para esse caminho. Alguns pesquisadores que não participaram do estudo também pensam assim.

São “resultados impressionantes e importantes”, avalia Trudie Lang, especialista em saúde global da Universidade de Oxford. “Essa nova epidemia parece ter sido um ressurgimento da anterior e não uma nova”, afirma.

Mas, restam “muitas incertezas”, ressalta Lang. “O que faz com que a infecção latente se torne uma nova infecção e como estes casos devem ser geridos?”.

A hipótese da reinfecção anos depois de anos em sobreviventes tem impacto na saúde pública, uma vez que eles vão precisar de acompanhamento. Autores do estudo e outros pesquisadores temem que os sobreviventes vivam com o estigma de indivíduos perigosos.

Poder360

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