11 de junho de 2020

“Queremos justiça”. Na Itália e França, vítimas da covid-19 apresentam queixas contra os governos


Do Jornal Diário de Notícias – Com muitos países europeus em desconfinamento e a verificarem uma diminuição no número de novos casos e de mortes, há agora quem olhe para a forma como os seus governos responderam à pandemia. É o que está a acontecer em Itália e em França, onde algumas das vítimas, ou os familiares, estão a apresentar queixas contra o Estado. Só em França são mais de 130 doentes que querem levar o Estado ao banco dos réus”.

A escassez de recursos, o tratamento dado aos doentes e a falta de informação estão na base das queixas que levaram famílias e vítimas a avançar com uma ação judicial.

Em Itália, familiares de vítimas do novo coronavírus apresentaram esta quarta-feira cerca de 50 queixas no Ministério Público de Bérgamo, no norte de Itália, a primeira ação judicial deste tipo no país, onde a epidemia provocou quase 34.000 mortos.

Acompanhados pelos seus advogados, elementos da Comissão “Verdade e Justiça para as Vítimas da Covid-19”, criada no Facebook e que conta 55.000 membros, apresentaram 50 queixas ao Ministério Público de Bérgamo, a cidade da Lombardia que foi o epicentro da epidemia em Itália entre o início de fevereiro e maio.

“Não queremos vingança, queremos justiça”, disse um dos fundadores do grupo, Stefano Fusco, 31 anos, cujo avô morreu em março.

As queixas foram apresentadas em Bérgamo por ser o “símbolo da tragédia que afetou todo o país”, afirmou Fusco, citado pela agência noticiosa francesa AFP.

Nas queixas, os autores apresentam os dramas vividos por cada uma das famílias individualmente, como falta de informação, maus cuidados ou o tratamento dado aos doentes.

O Ministério Público decidirá então se deve ou não instaurar um processo e, em caso afirmativo, como classificar os factos.

Italiana lembra que as urgências recusaram admitir o pai. Ele morreu e esqueceram-se de avisar a família
Cristina Longhini, uma farmacêutica, contou que perdeu o pai, de 65 anos, que estava “em grande forma quando foi infetado” e morreu num hospital em Bérgamo.

Inicialmente, as urgências recusaram-se a admitir o pai da farmacêutica, porque “não estava com dificuldades respiratórias” e no hospital exclusivo para a covid-19 em Bérgamo não havia camas disponíveis nos cuidados intensivos.

“E quando ele morreu, esqueceram-se de nos chamar. Fui finalmente identificar o seu corpo, ele mal era reconhecível, a boca aberta, os olhos inchados das suas órbitas, com lágrimas de sangue”, descreveu Cristina Longhini.

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