25 de junho de 2018

Artigo: O Amor e a Advocacia


 

KENNEDY DIÓGENES*

No filme “Dom Juan de Marco”, o protagonista interpretado por Johnny Depp propõe uma das mais fascinantes questões filosóficas da humanidade. Pergunta ele: “Sabe quais são as perguntas que realmente importam na vida? De onde viemos, de que é feito o espírito, pelo que vivemos e pelo que vale a pena morrer? A resposta para todas essas perguntas é a mesma: o amor”.

Dom Juan tem razão: o amor é o fim e o meio de todas as relações; é o tempero da vida. Como São Paulo pregou em 1 Coríntios 13, “ainda que eu falasse a língua dos anjos, e não tivesse amor, nada seria”, ensinando-nos a viver com base firme na premissa do amor. E essa forma de viver engloba tudo o que fazemos entre o abrir e cerrar dos olhos em cada dia na nossa jornada terrestre.

E por que pensar sobre o amor para falar da Advocacia?

Porque trabalhar duro e durante anos, às vezes, em busca de justiça para seus clientes sem esperar reconhecimento; diligenciar muitas vezes para obter a análise de uma decisão em um judiciário burocrático e moroso; ter que, constantemente, pedir respeito ao tratar com os seus serventuários; lutar para receber seus honorários, muitas vezes diminuídos sob qualquer pretexto; e, além disso tudo, estar sempre se atualizando para prestar cada vez mais um melhor serviço, o Advogado só pode ter o amor como sua força motriz.

Só o amor justifica abraçar os numerosos desafios impostos pela Advocacia, cabendo a esta o papel de último bastião de defesa da liberdade, da cidadania e da democracia.

Apesar dessa missão vultosa, é, de todas as carreiras jurídicas, a única em que seus membros, particularmente os da Advocacia Privada, lançam-se no vazio do tempo sem qualquer garantia de sua subsistência, retirando da esperança em um futuro melhor o combustível que os alimenta hoje.

Pelo advogado, somente a Ordem vem em seu socorro, devendo corresponder, nem mais, nem menos, aos anseios mínimos de lutar e impor que todas as suas prerrogativas sejam observadas liturgicamente, como oblação no altar da democracia.

É justamente por isso que a OAB não pode esperar repercussão ou provocação de outros para, corajosamente, sair em defesa da ofensa a qualquer prerrogativa, seja desferida por quem quer que seja, uma vez que esta proteção possui, como destinatário final, a própria sociedade.

A Advocacia não é lugar para aqueles que foram subjugados pelo medo ou pela incerteza, intimidaram-se pela autoridade arbitrária ou foram empurrados para esta vereda em face da frustração de não conseguirem ingressar em outras carreiras.

A Advocacia é os Campos Elísios dos homens e mulheres fortes, destemidos e obstinados na procura da verdade e da paz, no abraço leal daqueles que os procuram na dor moral, na defesa intransigente dos valores constitucionais que forjaram esta nação.

A Advocacia é, enfim, como o amor, um exercício de renovação diária a serviço do outro, haurindo-se de força e coragem para se interpor, como a funda, entre Davi e Golias, cumprindo com excelência seu papel na tão anelada Justiça Social.

* Kennedy Diógenes, Advogado e Diretor do Escritório DMD Advogados – Diógenes, Marinho e Dutra

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