14 de setembro de 2017

Análise: Denúncia forte, chances fracas


A segunda denúncia de Rodrigo Janot contra Michel Temer encerra um paradoxo. Por um lado, desdobramentos dos últimos dias reforçaram as suspeitas contra o presidente. O doleiro Lúcio Funaro disse na sua delação, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal, que recebeu para ficar calado, o que corrobora a conclusão da Procuradoria-Geral da República de que Temer deu aval à afirmação de Joesley Batista de que havia comprado o silêncio do doleiro e do ex-deputado Eduardo Cunha. São dois delatores e a entrega de malas de dinheiro à irmã de Funaro, gravada pela PF, para comprovar a tentativa de obstrução de Justiça. Além disso, ainda há a questão da organização criminosa, em que há vários indícios do comando do presidente sobre o esquema de corrupção engendrado por deputados do PMDB.

Por outro lado, no campo da política, o presidente ganhou força. E, sem o aval de dois terços da Câmara, ou seja, 342 dos 513 deputados, não importa quão forte seja a denúncia, ela simplesmente não vai para a frente. O agora célebre grampo de Joesley Batista e Ricardo Saud deixou claro que os delatores da JBS armaram uma armadilha para pegar o presidente e negociar em posição mais vantajosa com Janot. A participação do ex-procurador Marcello Miller como auxiliar dos Batista também ajudou a enfraquecer a posição da Procuradoria-Geral da República, embora ainda esteja nebuloso o quanto Janot sabia do papel do ex-auxiliar – e não há nada que indique que Miller atuou em tabelinha com o procurador-geral até agora.

Mas os políticos já aproveitaram a controvérsia causada pelo autogrampo e pela participação de Miller como pretexto para tentar desacreditar todas as revelações. Se na primeira denúncia, quando não havia nada disso, Temer já conseguiu maioria (ainda que à base de liberação de emendas e distribuição de cargos), nada indica que agora não será ainda mais fácil impedir que a segunda prossiga para o STF.

Do lado de Temer, há, ainda, a recuperação da economia, que começa a dar sinais de mais vigor, e o transcorrer do tempo: já estamos em meados de setembro, e em poucos meses a discussão vai ser mais sobre quem vai estar no Palácio do Planalto a partir de 2019 do que se vale a pena tirar ou não o atual ocupante.

Assim, por mais forte que seja a segunda denúncia, o mais provável é que ela tenha o mesmo destino que a primeira. Temer vai entrar para a história como um dos presidentes mais impopulares da história do país, como o primeiro a ser denunciado no cargo, mas não como mais um que não conseguiu concluir o mandato. Deve ficar na cadeira até o final de 2018.

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